Publicada: 08/01/2015
quinta-feira, 8 de janeiro de 2015
Apesar de uma ligeira recuperação que pode ser observada nesta quarta-feira (7), os preços do petróleo seguem sofrendo uma de suas piores crises e, na sessão anterior, renovaram as mínimas em seis anos tanto em Londres quanto em Nova York. O barril já perdeu, portanto, o importante nível dos US$ 50,00. A pressão sobre o mercado vem de um excesso de produção e de um frágil quadro macroeconômico mundial, segundo explicam analistas, que motivam a migração dos investidores para ativos mais seguros, como o dólar - que tem subido frente à cesta das principais moedas internacionais - e o título da dívida americana.
E segundo noticia a agência internacional Dow Jones Newswires, a situação ainda deve permanecer assim, já que não há mudanças previstas no horizonte, nem mesmo no longo prazo. "Não há notícias positivas. A Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) se recusa a cortar a produção e não há evidências de queda na produção fora do cartel", disse o estrategista chefe da Confluence Investment Management, Bill O'Grady à Dow.
Essa crise nos preços de uma das mais importante fontes de energia do mundo tem direcionado praticamente todos os demais mercado, ainda de acordo com analistas internacionais. Para alguns, isso poderia até mesmo ser um sinal de que o crescimento global está desacelerando, disse Jeffrey Sherman, gestor da DoubleLine Capital, também à agência internacional.
Crise do Petróleo x Agronegócio
Para o agronegócio, o primeiro impacto sentido em função da crise nos preços do petróleo são o peso sobre as commodities agrícolas. Como ativos mais sensíveis ao risco, os investidores acabam deixando esses mercados em busca de outros mais seguros - se repetindo a ação que se observa entre os negócios com o próprio petróleo - e os preços acabam sentindo a pressão nas chamadas realizações de lucros. No entanto, para alguns analistas, esse é um impacto passageiro, já que, entre os fundamentos - principalmente os de demanda, ainda há força para dar suporte às cotações.
Ao contrário do que ocorreu em anos anteriores - quando um avanço ou recuo dos preços do petróleo era acompanhado pelo mesmo movimento das commodities agrícolas - nesta nova crise o mundo vive um fenômeno inverso, segundo explica Liones Severo, consultor de mercado do SIMConsult. Quando o petróleo subia, as agrícolas acompanhavam e a recíproca era verdadeira.
"Esse fenômeno se explica porque a queda do petróleo está proporcionando uma redução de custo das famílias de países populosos como China, Índia, etc, o que resulta em um aumento de consumo de alimentos pela melhoria das dietas alimentares dessas grandes populações", afirma Severo. "Estamos experimentando um fenômeno completamente diverso, com movimento contrário dos preços entre essas commodities (agrícolas e petróleo). O que surpreende é a relação de preços entre petróleo e alimentos, que através da historia sempre foram concorrentes nas altas e nas baixas, mas desta vez, aparentemente, o fenômeno da relação dos preços se inverte", completa.
A China, a maior e mais importante potência econômica importadora de alimentos, é também compradora de petróleo e, "gastando" menos com energia, cria uma possibilidade de um aumento ainda maior em sua demanda por alimentos, o que deve se repetir entre outros países, como a Índia, por exemplo. Afinal, paralelamente à crise nos preços do combustível, a nação asiática vê sua economia crescer cerca de 7% ao ano e, ao mesmo tempo, um crescimento de sua população. E essa população vem aumentando, expressivamente, seu consumo por comida de qualidade, principalmente proteína animal.
De acordo com informações do SIMConsult, em 1978, esse consumo era de 8 milhões de toneladas, o que correspondia a um terço do consumo dos Estados Unidos, de 24 milhões de toneladas, porém, em 1992, esse cenário se inverteu e se mantém até os dias atuais. Em 2012, os chineses consumiram 71 milhões de toneladas, o dobro do consumido pelos americanos. O país detém mais da metade do rebanho mundial de suínos, com algo perto de 476 milhões de cabeças.
Desde outubro, os preços do combustível já recuaram mais de 40% e, para o consultor de mercado Carlos Cogo, um dos produtos mais afetados pode ser o milho. "Essa crise já está afetando muito mais o milho, afetando a margem dos produtores de etanol (a base do cereal) nos Estados Unidos e, menos a soja. Embora haja uma ligação grande com o biodiesel, o óleo de soja não chega a pesar 20% na formação da margem das empresas processadoras no esmagamento. Então, o impacto da queda dos preços do petróleo na soja é muito mais limitado do que no milho, haja vistas que 35% da produção norte-americana destinada à produção de etanol", diz.
Em novembro, o índice de preço dos alimentos da FAO - o braço da ONU (Organização das Nações Unidas) para alimentação e agricultura - caiu para 192,6 pontos, registrando o menor nível desde agosto de 2010. Segundo informações apuradas pela agência internacional de notícias Bloomberg, essa baixa veio, em partes, como consequência de custos menores de produção em boa parte do mundo influenciada, principalmente, por essa severa queda registrada nos preços do petróleo. A atualização do índice da FAO será divulgada no dia 8 de janeiro.
(FONTE: Cotrijuc)