Publicada: 07/08/2014
quinta-feira, 7 de agosto de 2014
Os três candidatos com mais chances de chegar à Presidência da República na eleição de outubro deste ano, Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) foram entrevistados ontem na Confederação Nacional da Agricultura
Demanda do agronegócio já está em implantação, afirma Dilma Rousseff
Em discurso na sabatina da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), a presidente Dilma Rousseff afirmou que a maioria das propostas da entidade faz parte das políticas que o governo está implantando e apresentou realizações na área do agronegócio. Dilma fez acenos ao setor ao defender a revisão nas normas de demarcação de terras indígenas - atualmente em curso no Ministério da Justiça - que deve incluir outros órgãos no processo, não apenas a Funai.
“Já demarcamos 17% do território do Brasil, agora as áreas são todas de conflito, vão precisar ter um tratamento adequado. Esses temas institucionais, junto ao meio ambiente, são cruciais, não é para o avanço só do agronegócio, mas para a estabilidade institucional do País”, afirmou a presidente. Ela citou, como realizações do governo na área, o crescimento do crédito rural, a aprovação do novo Código Florestal, a expansão do seguro agrícola e os investimentos na assistência técnica rural, ressaltando a criação da Anater (Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural).
Sobre a questão agrária, ao ser questionada em entrevista coletiva, Dilma disse ter feito a “maior reforma agrária do País”, contabilizando também o período do presidente Lula. A gestão da presidente, porém, é criticada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) como um dos piores nessa área, com baixo número de desapropriações de terras para destinar a assentamentos.
Dilma também prometeu aprimorar a logística de transporte no País e priorizar investimentos em hidrovias. “Para nós é crucial ampliar a infraestrutura pluvial, para reduzir custos e o uso das hidrovias como o principal caminho de transporte da nossa safra para a exportação”, disse. A presidente reconheceu que os investimentos na defesa agropecuária ficaram “aquém da necessidade do País” e disse assumir o compromisso de melhorias na área. Ao finalizar sua fala, defendeu o fortalecimento da “classe média rural”.
Aécio Neves promete um superministério para pasta da Agricultura
O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, afirmou que, caso eleito, pretende extinguir o Ministério da Pesca e incorporá-lo ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). A pasta da Pesca foi criada em 2003 no governo do então presidente Lula. Inicialmente, atuava como uma secretaria ligada à Presidência da República, transformada em ministério em 2009.
O fortalecimento do Mapa é uma das principais demandas do setor do agronegócio. “Criarei no primeiro dia de governo um super Ministério da Agricultura, incorporando o Ministério da Pesca. No meu governo, o ministro da Agricultura não vai ser subordinado ao ministro da Fazenda. Falta uma política agrícola moderna, que garanta renda ao produtor e atenda a nova economia de mercado”, afirmou o tucano.
Para uma plateia composta por representantes do agronegócio, o candidato tratou por diversas vezes o Mapa como um “superministério” e afirmou que, em eventual gestão sua, a pasta “sairá da política de balcão a que está submetida hoje” e passará a ser “decisiva para a formulação de políticas públicas”.
Aécio Neves ressaltou também a importância do setor para o crescimento da economia. “O Brasil pode superar a crise de desesperança e crescimento da economia. Não há visão estratégica no governo sobre a importância do agronegócio, que vem sustentando o PIB e as contas externas”, afirmou. “O superministério irá destravar investimentos sempre destacados nas folhas de papel e que não são vistos na vida das pessoas”, acrescentou.
O candidato também sinalizou como trataria a questão das desapropriações de terras invadidas. “As fazendas invadidas não serão desapropriadas em um prazo de 2 anos, como sinalização clara de que respeitamos o direito de propriedade”. Na questão trabalhista no campo, o tucano defendeu que haja uma redução dos custos. “Vamos garantir que se cumpram os direitos trabalhistas de quem se dedica ao campo.
Eduardo Campos diz que o crédito rural no Brasil precisa ser mais ágil
O candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, afirmou que o crédito rural no País precisa ser “modernizado e tem de ser ágil”. “Não adianta ter R$ 200 bilhões em crédito e fazer conta de palito na hora de avaliar os subsídios e a subvenção”, disse.
Ele defendeu ainda a institucionalização de políticas de preço mínimo para o setor e disse que, caso eleito, liderará a negociação no Congresso para regulamentar. ainda em 2015, o artigo da Constituição Federal que diz respeito às cooperativas. “A não regulamentação afeta a capacidade e a competitividade dos cooperados, responsáveis por 40% da produção brasileira”, disse. Ele defendeu ainda a criação de um conselho para o desenvolvimento agrário que seja voltado ao “diálogo constante” com esse segmento.
Campos também apontou problemas do País na área de logística e defendeu investimentos nessa área. Segundo ele, a logística chega a ter um impacto de 40% sobre o preço de produtos nacionais quando em outros países essa proporção chega a 10%. O candidato destacou que o agronegócio multiplicou sua produção nos últimos anos e não foi acompanhado pela expansão da capacidade logística do País. “O orçamento fiscal não dá conta dos objetivos (para a logística). O ambiente macroeconômico tem que melhorar, se não o setor privado não aporta recursos”, concluiu.
O ex-governador de Pernambuco afirmou que irá melhorar o sistema de seguros e fortalecer a interlocução dos agricultores e pecuaristas com Brasília. “Precisamos articular crédito, seguro e preço mínimo. Porque crédito sem seguro mata quem produz, quem arrisca. O sistema de seguro é muito tímido, só para catástrofe, mas não para proteção da renda.” Campos procurou manter um discurso objetivo, abordando problemas do setor, e fez somente ao final uma referência às questões ambientais, como a economia de baixo carbono, tema central da pauta de Marina Silva, sua candidata a vice-presidente.
(Fonte: Jornal do Comércio RS)