Publicada: 24/10/2013
quinta-feira, 24 de outubro de 2013
Desde a década de 90, a soja avança lentamente para outras regiões do Estado. Em um primeiro momento, levada por agricultores de regiões produtoras já consolidadas, como Cruz Alta e Passo Fundo, a cultura foi ganhando espaço em áreas antes dominadas pelo arroz e pela pecuária. Nos últimos cinco anos, uma nova expansão tem mudado o perfil agropecuário da Campanha e da Fronteira Oeste. As estimativas da Aprosoja são que a área de soja no Estado, que foi de 4,6 milhões de hectares na última safra, aumente até 10% por causa desta migração.
A região de São Gabriel, na Fronteira Oeste, simboliza esta mudança. Tradicional reduto da criação bovina, tem se rendido ao grão que injetou, na última safra, R$ 38 bilhões na economia gaúcha. O agropecuarista Rodolfo Gonçalves, 53 anos, é um exemplo. Na década de 90, ele começou a experimentar o plantio de soja em pequenas áreas, na propriedade rural de 700 hectares, que fica em Santa Margarida do Sul, no limite com São Gabriel. No começo, a área tinha papel secundário em relação à pastagem. Hoje, Gonçalves destina toda a propriedade para a soja.
No inverno, a lavoura vira pastagens para o engorde de terneiros. Segundo o produtor rural, diversificar o uso da terra possibilitou o aumento da renda dos agricultores.
- A soja permite investimentos que dão um retorno maior. E cultivando a pastagem, com o plantio de azevém e aveia, conseguimos um salto de produtividade - afirma o agropecuarista.
Ele explica, ainda, que revezar a lavoura com as pastagens tem favorecido a prática do plantio direto, que reduz a necessidade de adubar e preparar a terra. Tradicionais produtores de arroz da região também têm optado pelo plantio de soja há alguns anos, para recuperar os nutrientes do solo.
- Um fator que permitiu a vinda da soja para a região é a tecnologia, com sementes que produzem bem em áreas úmidas, onde normalmente se planta arroz - acrescenta.
Para aproveitar o bom momento da oleaginosa, Gonçalves está investindo na propriedade. Ele vai inaugurar, nesta safra, o recentemente comprados pivô de irrigação, que vai garantir a produtividade em 98 hectares da lavoura.
Rotação com arroz é aposta para aumento de renda
Conforme o presidente do Sindicato Rural de São Gabriel, Tarso Teixeira, a soja não compromete o plantio de arroz, que ocupa cerca de 35 mil hectares de área no município. A aposta é alternar a cultura.
- Tem gente que planta dois anos arroz e dois anos soja. A soja fixa nitrogênio no solo, o que aumenta a produtividade do arroz.
A Farsul acompanha com entusiasmo essa diversificação. O diretor da comissão de grãos da entidade, Jorge Rodrigues, diz que o produtor terá de se adaptar à cultura para obter êxito na produção.
- É uma realidade positiva. Uma nova cultura que vai ajudar no aumento de renda do campo.
No rastro da cultura, mais investimentos
O presidente da Associação Comercial e Industrial de São Gabriel, Cristiano Carvalho, também é entusiasta da diversificação.
- Todas as marcas de revendas de máquinas agrícolas chegaram ao município. Além disso, houve também investimento em silos. É dinheiro que movimenta a economia local e que gera empregos - diz.
Preço da terra aumentou na região
O êxito da soja despertou o aumento pela procura de terra naquelas regiões. Com isso, os preços também aumentaram. Em São Gabriel, em 10 anos, o valor das áreas aumentou até 600%. Com isso, o preço médio do hectare saltou de R$ 1,5 mil para R$ 10,5 mil. Em Santana do Livramento, a procura também inflacionou o preço das propriedades rurais. O consultor agropecuário Paulo Morel conta que produtores de outras regiões do Estado têm procurado áreas na Fronteira Oeste.
- O pessoal arrendava para pecuaristas. Hoje, estão arrendando para plantadores de soja que pagam até o dobro do preço pelo hectare. Fica difícil competir. O grão está avançando em áreas que antes eram exclusivas de pecuária - contou Morel.
Fonte: Diário de Santa Maria.