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Publicada: 17/04/2013

Na rota da soja, perigos e lentidão

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Frota de caminhões triplica nas BRs

O trecho de 480 quilômetros entre Cruz Alta e Rio Grande é o principal corredor de escoamento de grãos do Rio Grande do Sul. Formado pela união das BR-158 e 392, a estrada recebe o triplo de caminhões de março a maio se comparado aos outros meses do ano, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF). A circulação de uma média de 5 mil caminhões por dia nesta época se deve ao escoamento da safra de soja, o principal grão exportado pelo Estado.

Em meio a tanta riqueza que sai da região celeiro (composta por municípios do Norte, Nordeste e Centro gaúchos) rumo ao porto dentro de caminhões, há um cenário de perigo, imprudências, trânsito lento, congestionamento, obras e gargalos. Apesar de as rodovias estarem em boas condições, esses elementos exigem cuidado redobrado dos motoristas em um corredor que não é duplicado.

Como 90% da safra – estimada neste ano em R$ 6 milhões só para exportação (o dobro disso no total) – é transportada por caminhões, a previsão é muita lentidão até o final de maio.

O presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística no Estado do Rio Grande do Sul (Setcergs), Sérgio Neto, diz que cada ano é um desafio.

– Em alguns pontos, o caminhão tem de andar a 20 km/h. Fica difícil já que a estrada tem poucos pontos de terceira pista. A logística é o nosso maior problema.

Imprudências são um risco maior para os veículos pequenos

Cruz Alta, que tem o maior complexo de armazenamento de grãos do Estado, é o retrato desse problema. O movimento de caminhões que descarregam nas cerealistas ou que cruzam para chegar ao porto, provoca congestionamentos na zona urbana, como pôde comprovar a reportagem do Diário, que percorreu as BRs 158 e 392 de Cruz Alta a Caçapava do Sul na quarta e segunda passadas.

– Quando está chovendo forte ou tem muito tráfego, paro o caminhão. Não tem jeito – disse o caminhoneiro Valmir Raach, 39 anos, que transporta soja de Horizontina a Rio Grande.

Rodando em velocidade abaixo do normal, em subidas, trevos e curvas, os caminhões formam longas filas, quase sempre permeadas por carros, sujeitos a perigosas ultrapassagens e à imponência dos grandões.

– O maior tráfego de caminhões ocorre das 6h às 9h e das 18h às 22h. Evite esses horários – avisa o policial rodoviário Edilson Vieira.

A imprudência é inimiga da segurança. Além de ultrapassagens perigosas, não é incomum caminhoneiros que dormem ao volante.

– A estrada está boa, mas presencio muita imprudência – diz Adalci Silva, que viaja frequentemente entre Santa Maria e Caçapava do Sul.

Duplicação pontual

Apesar do movimento intenso, o governo federal não tem, a médio prazo, planos concretos para mudar a realidade do corredor da soja.

Uma alternativa seria a duplicação da via, como está ocorrendo nos 60 quilômetros entre Pelotas e Rio Grande, no sul do Estado. O único projeto que pode ser colocado em prática a curto prazo é o de obras pontuais do Crema 2, um programa de recuperação das rodovias federais.

Conforme o engenheiro Olivar Behegaray de Azevedo, do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), há previsão de construção de terceira pista em locais pontuais de Santa Maria (próximo ao Frigorífico Silva) e Caçapava do Sul (cruzamento das BRs 290 e 392 e zona urbana). Atualmente, o Dnit trabalha na recuperação da BR-158, entre Cruz Alta e Júlio de Castilhos.

– O ideal seria ter uma estrada duplicada. Caso contrário, o motorista de um veículo leve vai seguir disputando espaço com esses enormes caminhões. É perigoso – reclama o motorista André Almeida.

Nova rodovia foi prometida pelo governo federal

O presidente do Setecergs, Sérgio Neto, diz que as entidades se mobilizam para exigir melhoras, mas, esbarraram na falta de verba.

– Temos de nos contentar com reformas pontuais.

O sindicato pode vislumbrar uma luz no final do túnel. Na sexta-feira passada, a presidente Dilma Rousseff anunciou um investimento que dá esperanças aos usuários das rodovias: a construção de uma rodovia alternativa para escoar a safra, a BR-392, entre Santa Maria e Santo Ângelo.

Duas saídas possíveis

A construção de 235 quilômetros de uma nova rodovia, entre Santo Ângelo e Santa Maria, promete aliviar o movimento na BR-158.

A via, que se chamará BR-392, será uma alternativa para escoar a safra produzida na Região Noroeste, principalmente para municípios próximos de Santa Rosa. Além disso, deve ser rota para produtores de soja localizados no trajeto, ainda indefinido. Com investimento estimado em R$ 1,6 bilhão, a obra deve começar em 2014, com previsão de ser entregue em, no mínimo, três anos.

Outra alternativa, diz Pedro Herter, presidente da Associação das Empresas Cerealistas do Rio Grande do Sul (Acergs) é aumento do uso da malha ferroviária. Mas, para isso, o transporte de carga por trem deve ser aprimorado para incentivar o produtor a trocar o caminhão:

– As empresas precisam ter preços mais atraentes. A agilidade na entrega também deve ser melhorada.

Fonte: Diário de Santa Maria.