Publicada: 13/03/2014
quinta-feira, 13 de março de 2014
O Produto Interno Bruto (PIB) de 2013 do Estado não cresceu no nível alardeado pelo governador Tarso Genro no começo da semana - de 6,6% a 6,8% -, mas mostrou vigor frente ao indicador nacional e recuperou-se gerando ganho positivo após a queda de 1,4% em 2012. A principal medida da riqueza produzida no Rio Grande do Sul teve alta de 5,8% no ano passado. O desempenho significou duas vezes e meio o PIB do País, que avançou 2,3% na primeira prévia divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em fevereiro. O setor agropecuário liderou, com crescimento expressivo de 39,7%, seguindo por serviços, 3,2%, e pela indústria, 2,9%. A taxa de desempenho traduz a cifra de R$ 310,5 bilhões, 6,42% da economia nacional em 2013. A fatia avançou levemente, após representar 6,21% em 2012. A renda per capita passou a R$ 27.813,21, alta de 5,3% sobre o valor anterior e 15,6% superior à média do País, segundo a Fundação de Economia e Estatística (FEE), responsável pelo cálculo. A receita de impostos relacionada à atividade aumentou 4,3%, e só não saiu mais turbinada (abaixo da média do PIB) porque o ramo primário é um dos mais desonerados, principalmente no fluxo externo. SOJA, com safra de 12,8 milhões de toneladas, ostentou 114% de avanço sobre o ano anterior, abatido pela estiagem. Sentado ao lado da coordenação do PIB e direção da FEE na sede da instituição, o secretário estadual de Planejamento, Gestão e Participação Cidadã, João Motta, alegou, em relação ao erro de um ponto percentual sobre o resultado, que o governador teria se referido ao desempenho do terceiro trimestre do ano passado, que ficou em 6,6%. O impacto da safra foi confirmado pelo coordenador da contabilidade, Martinho Lazzari, que ponderou para a contribuição de setores da indústria de transformação, como veículos, combustíveis, máquinas e equipamentos foi decisivo. "A indústria acelerou no segundo semestre do ano, passado o efeito safra, e manteve o crescimento até fechar o ano", justificou o coordenador. Em nota técnica, a Federação da AGRICULTURA (Farsul) reforçou que a alta de quase 40% do ramo primário foi decisiva para que "o crescimento do PIB local descolasse do nacional" e elencou que a maior oferta de crédito, a renegociação de dívidas, os melhores preços e acesso à tecnologia determinaram condições diferenciadas para contornar a quebra de 2012 frente a outras estiagens históricas no Rio Grande do Sul.
Na indústria, os técnicos mostram preocupação com recuo em alimentos, calçados e fumo. Em serviços, comércio e transportes puxaram o desempenho positivo. A coordenação do PIB citou que o Rio Grande do Sul cravou o maior crescimento em relação a estados que fazem cálculos trimestrais, Paraná veio logo depois. Ao analisar a trajetória do indicador desde 1995 (quando a série foi ajustada), a FEE pontuou que o índice de 2013 significou maior proporção sobre a taxa brasileira em quase 20 anos. Ao contrastar as médias por década, o Estado ficou acima do índice do Brasil nos anos de 1990 (2,7% ante 2,5%) e na média dos três primeiros anos da nova década (3,1% frente 2% do País. O PIB nacional foi superior nos anos 2000, com média de 3,6%, frente 2,6% do produto gaúcho. O Produto Interno Bruto do quarto trimestre cresceu 3,4%, com alta de 3,6% da indústria, acima dos 3.2% da agropecuária. O ramo de transformação ficou em 5%. ?Há relação com a demanda primária (máquinas), mas os fabricantes abastecem outros mercados do País e exterior?, ressaltou Lazzari. Combinação de desonerações (como de veículos), exportações e encomendas no polo naval alimentaram as plantas industriais. O presidente da FEE, Adalmir Marquetti, ponderou que a mudança de políticas em 2014 pode afetar alguns segmentos, e que a AGRICULTURA não terá uma alta tão expressiva, pois a base de comparação não será pequena. "Vamos manter o crescimento e ficar acima da média nacional e com menor dependência à agropecuária", avaliou Marquetti.
Crescer é bom, mas a conta vem junto. Gargalos da infraestrutura, apontados como barreiras ao melhor desempenho ou ganhos de setores primário e industrial, devem ser foco enquanto o PIB mostra recomposição, assinalaram membros do governo e abalistas. O secretário estadual de Planejamento, Gestão e Participação Cidadã, João Motta, disse que investimentos para ampliar estradas e ampliar os modais devem aumentar, contando com injeção e recursos federais. O secretário admitiu que há dificuldades, que vêm de muito tempo, e que estudos e projetos em licenciamento somarão cerca de R$ 10 bilhões em recursos. Estudo da Federação das Indústrias do Rio Grande (Fiergs) calculou em R$ 15 bilhões os investimentos para atualizar a infraestrutura. "Esperamos abrir licitação em 2014", projetou Motta, listando, entre as obras, duplicações de rodovias em diversos pontos do Estado e corredores da produção, como a BR-392. A maior obra recente foi a construção da BR-448, na Região Metropolitana, e está em andamento a duplicação da BR-116 Sul. ?Estamos entre os quatro maiores estados em aplicação federal. Tem de enxergar isso?, reagiu o secretário, adiantando que, em abril, o ministro dos Transportes virá ao Estado para apresentar estudos da viabilidade da hidrovia do Mercosul. "Queremos lançar a licitação ainda neste ano", aposta Motta.
O sócio da consultoria Pwc Brasil Carlos Biedermann opinou que o PIB deve ser festejado, pois gera imagem positiva do Estado na atração de investimentos. "A economia gaúcha mostra que cresce, e mais que o Brasil, mesmo que a base de comparação seja muito ruim", qualificou o consultor, reforçando que crédito subsidiado ajudou a reverter perdas no ramo primário.Biedermann alertou para que o desempenho deve servir de oportunidade para melhorar a infraestrutura. "Isso passa a ser mais importante ainda se quisermos sustentar este ritmo ao longo do tempo", preveniu o sócio da Pwc, que apontou ainda medidas para ampliar incentivos a empresas, agilizar licenças e formação de parcerias público-privadas (PPPs) e concessões, que ocorre no governo federal. "Aqui, ainda é tudo muito lento."
Fonte: Jornal do Comércio.