Publicada: 11/12/2013
quarta-feira, 11 de dezembro de 2013
Quando a comparação é feita com o trimestre passado, no entanto, houve recuo de 1,6% em relação ao período de abril a junho, conforme dados divulgados ontem pela Fundação de Economia e Estatística (FEE).
Aparentemente divergentes, os números (um positivo e outro negativo) refletem diferentes bases de análise, explica o economista Marcelo Portugal, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) - e ambos embutem algum grau de distorção. Quando a comparação é feita com o mesmo período de 2012, o número parece bastante positivo porque a economia gaúcha despencou, no ano passado, depois de uma seca que reduziu em quase um terço a produção agrícola do Estado.
O desempenho negativo em relação ao segundo trimestre também é atribuído ao efeito campo: compara o período de maior resultado da superprodução de SOJA - o segundo trimestre - a outro em que grande parte da colheita já foi vendida.
- Em 2012, a economia gaúcha recuou 1,4%. Se o crescimento de 6% em 2013 se confirmar, teremos média de 2,6% ao ano. Seja olhando para um número que parece muito positivo, ou um número que parece muito negativo, continuamos crescendo em um ritmo moderado, na mesma velocidade do restante do país - diz Portugal.
Martinho Lazzari, coordenador do núcleo de contas da FEE e que divulgou os dados, ressalta que a AGRICULTURA teve pouco peso nos últimos três meses. O bom desempenho da indústria reflete o momento positivo do agronegócio, em que o segmento de crescimento mais expressivo foi máquinas e equipamentos.
- Esse resultado é, em parte, devido ao crédito subsidiado que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social oferece para compra de máquinas agrícolas. O aumento de produção no polo naval de Rio Grande também estimulou a venda de equipamentos - explica Lazzari.
Campo eleva resultados de transporte e comércio
A nota negativa foi para a indústria de alimentos e fumo que registraram recuos significativos, de 1,3% e 5,8% em relação ao mesmo período de 2012.
- Exportamos muita SOJA, mas diminuímos a venda de óleo, o que mostra que somos bons em comercializar matéria-prima, mas ainda patinamos para negociar alimentos processados - afirma Adalmir Antonio Marquetti, presidente da FEE.
No setor de serviços, o maior avanço também ocorreu na carona do campo. O segmento transportes, o principal destaque, foi incentivado em boa parte pela necessidade de escoamento da safra recorde de SOJA. O comércio também teve ganhos. Mais dinheiro circulando nas cidades do Interior permitiu maior volume de negócios.
A expectativa é que haja desempenho semelhante da economia no quarto trimestre, com aquecimento das vendas de fim de ano.
- É difícil projetar um resultado, mas deve vir melhor que os 3,6% observados agora. No ano, a economia deve vir acima de 5%, mas pode vir até o triplo da média nacional, projetada em 2,5% - diz Celso Pudwell, economista do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul e professor da PUCRS.
Estado chega a 2014 em ritmo mais lento
Fiergs prevê PIB gaúcho e brasileiro na mesma velocidade no próximo ano
Pelo menos entre os empresários, 2014 se avizinha sem despertar qualquer sinal de euforia, depois de um resultado excepcional da economia gaúcha neste ano e da manutenção dos entraves que impediram avanço mais robusto do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Na projeção da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), a virada no calendário indica desaceleração no Estado.
Se em 2013 o Estado deve crescer o dobro da média nacional, beneficiado pela supersafra, no próximo ano a tendência é de que o PIB do Rio Grande do Sul siga o ritmo do nacional. No cenário moderado, considerado mais provável pela entidade, a economia gaúcha avança 2,1%. Na hipótese mais pessimista, tenderia à estabilidade (0,2%) e na perspectiva otimista haveria alta de 3,4%. Nem a perspectiva de duas safras cheias seguidas permitiriam ao Estado recuperar o peso relativo no PIB nacional.
- A expansão da economia em 2013 sobre o ano passado foi um crescimento meramente estatístico, porque em 2012 a estiagem ceifou mais de 10 milhões de toneladas de grãos. Os dois anos foram fora da curva - afirma o presidente da Fiergs, Heitor Müller.
Industriais estão mais pessimistas
A expectativa de um 2014 sem empolgação vem da falta de solução para problemas estruturais que frearam a economia brasileira, como infraestrutura deficiente e falta de mão de obra qualificada, que se traduz em menor competitividade - principalmente para indústria que faz a projeção.
A percepção negativa se agrava pela persistência da inflação em nível elevado, falta de equilíbrio nas contas públicas e baixo nível de investimentos. No Estado, ressalta Müller, somam-se a esses obstáculos as barreiras argentinas às exportações, a proposta do Palácio Piratini de reajuste de 12,7% para o piso regional e a polêmica do imposto de fronteira, que torna mais baratos produtos de outras regiões.
- Faz 10 anos que o comércio cresce mais do que a indústria. Tudo isso é consumo de produtos importados - queixa-se Müller.
Coordenador da Unidade de Estudos Econômicos da Fiergs, André Nunes de Nunes, lembra que, apesar do alto crescimento de 2013, na média dos últimos dois anos o PIB gaúcho avançou somente 1,63%, percentual semelhante ao do país (1,62%). E para 2014, as expectativas dos industriais estão mais pessimistas em relação aos últimos anos devido à existência de altos estoques, consumo menos aquecido e baixa utilização da capacidade instalada das fábricas.
- Os empresários entraram em 2013 bem mais otimistas do que estão saindo - compara Nunes, ressalvando que apenas uma subida do dólar é motivo de esperança para os industriais gaúchos, porque beneficiaria as exportações das empresas do Estado.
Fonte: Zero Hora