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Publicada: 28/06/2021

Oferta de trigo cresce no Mercosul, e preço das farinhas deverá recuar

segunda-feira, 28 de junho de 2021

Fonte: Jornal Valor Econômico

Depois de subir mais de 6% nos últimos 12 meses, parece que os consumidores terão à disposição um pãozinho mais barato nos próximos meses. Os motivos são o aumento na produção de trigo em todo o Mercosul e a queda do dólar, que permite importar o cereal por valores muito mais baixos que nos meses recentes. Em menor grau, o recuo das cotações em Chicago também ajudou a empurrar os preços para baixo no país.

Os excelentes preços da safra 2020/21 proporcionaram aos triticultores brasileiros lucros antes nunca imaginados — ao redor de 25% na região Sul —, e por isso houve um aumento de área plantada em todo o país, de 8,1%, segundo estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A produção nacional deverá somar 6,94 milhões de toneladas, 11,3% mais que no ciclo passado, com recorde em Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

E o mesmo aconteceu nos demais países do Mercosul, observa o analista Luiz Carlos Pacheco, da consultoria T&F. Na Argentina, a produção, que foi de 17,5 milhões no ciclo passado, subirá para 19 milhões agora; no Paraguai, o crescimento será de 43%, de 980 mil para 1,4 milhão de toneladas, e no Uruguai o volume tende a passar de 650 mil para 750 mil toneladas. “São mais 2,2 milhões de toneladas disponíveis de trigo com excelente qualidade, que agora estão chegando ao país a preços menores que o do trigo gaúcho e paranaense”, diz Pacheco. Segundo seu levantamento, há duas semanas o trigo nacional custava R$ 1.650 a tonelada no interior gaúcho, e agora está a R$ 1.450 a tonelada. “Acontece que começou a chegar trigo argentino a R$ 1.628, e os produtores foram obriga- dos a baixar o preço”, afirma.

Como consequência imediata, o varejo, padarias e outros consumidores de trigo começaram a pressionar os moinhos pela queda das farinhas. O que é bom para o consumi- dor, porém, não é tão positivo para a indústria. “Com exceção dos moinhos do litoral que ficam de São Pau- lo para cima, que compram cereal argentino, todos os outros, do interior e do Sul, estão com margem ze- ro ou negativa”, afirma Pacheco.

A questão é que os moinhos estão estocados com trigo comprado a preço médio de R$ 1.350 a tonelada, o que é mais ou menos o valor que estão negociando a farinha agora. “A conta não fecha”, diz o dirigente de um moinho, que pediu anonimato.

Cesar Augusto Pierezan, administrador do moinho da gaúcha Cotriel, em Espumoso (RS), afirma que a cooperativa não está com margem negativa, mas que ela está bem abaixo de 1%. “Com o poder aquisitivo do consumidor em queda, o mercado de farinha [as indústrias de massas, biscoitos e as padarias] não conseguiu repassar esse aumento”.

Segundo ele, o ano passado foi atípico. O normal é que a cooperativa tenha pouco retorno com o trigo. Os resultados melhores são obtidos com soja e milho.. “Apesar de não ser nosso principal produto, o trigo é muito importante para movimentar a economia do Estado”, diz Pierezan.

Para Pacheco, a tendência é os preços de trigo e farinha seguirem em queda ao menos até o fim do ano. “Não é mau agouro, é pura matemática. Ao contrário do que muitos vendedores de trigo pensam, a tendência dos preços deverá se in- verter na safra nova: em 2020, começaram baixos, em R$ 980 a tonelada, e chegaram na safra a R$ 1,7 mil. Agora, o trigo começou a temporada em R$ 1,6 mil no Paraná e R$ 1,5 mil no mercado gaúcho, e deve ficar em R$ 1,2 mil e R$ 1,1 mil m dezembro, respectivamente”, diz.

Foto de lavoura de Amaro panta Corrêa em Albardão Rio Pardo RS