Publicada: 06/08/2012
segunda-feira, 6 de agosto de 2012
Os produtores brasileiros de soja e milho, os dois principais GRÃOS cultivados no país, esperavam ter em 2012 um ano difícil. A estiagem no Sul resultou em uma quebra da safra raramente vista. Para a soja, a queda de 12% na produção foi a maior em duas décadas, ou 9 milhões de toneladas a menos em relação ao ano anterior. As perdas foram inicialmente estimadas em 7 bilhões de reais. Ao mesmo tempo, nos Estados Unidos, o maior plantio da história fundamentou a expectativa de uma safra recorde de milho, a principal cultura no país, além do aumento na colheita de soja. Mas, em dois meses, a sorte dos produtores americanos e brasileiros foi alterada radicalmente.
O início do verão no Hemisfério Norte foi acompanhado da seca mais abrangente nos Estados Unidos em mais de meio século Dois terços da área apta para o cultivo sofrem com a escassez de chuvas. A ocorrência no ano passado do La Nina, o fenômeno climático caracterizado pelo esfriamento das águas do Oceano Pacifico tropical, reduziu o volume de precipitações (foi o mesmo vilão da estiagem no sul do Brasil) Além disso, um inverno mais ameno que o usual fez o solo perder umidade mais rapidamente na primavera e no verão A seca solapou, de junho para julho, a estimativa de alcançar uma colheita histórica de milho A expectativa passou de 376 milhões para 329 milhões de toneladas, e devera cair ainda mais nas projeções a serem divulgadas no próximo dia 10 - provavelmente ticara abaixo dos 314 milhões de toneladas da última safra. A redução já oficializada equivale a dois terços da atual safra brasileira.
A seca americana tem ampla repercussão nas cotações mundiais das matérias-primas agrícolas, uma vez que o pais e o maior produtor de milho soja e trigo. No caso do milho, os Estados Unidos respondem por 40% das exportações globais isso explica a alta de 33% no preço do grão desde meados de junho. O encarecimento reavivou os temores de uma crise alimentar de alcance global, principalmente nos países pobres. É um cenário visto pela última vez em 2008, nos meses que antecederam a crise financeira. Na ocasião, os preços elevados fomentaram mais de sessenta manifestações populares em trinta países, principalmente na Africa e na Ásia. "Estamos à beira de uma nova crise, a terceira em cinco anos e talvez a pior de todas. Ela será capaz de causar novas revoltas, comparáveis à da Primavera Arabe", diz Yanur Bar-Yam, presidente do New England Complex Systems Institute. Ele e outros dois pesquisadores estudaram a correlação entre os preços de alimentos e os protestos e encontraram um patamar acima do qual as revoltas se tornam mais prováveis. E com base nesse modelo estatístico que ele faz o alerta.
Mas os preços elevados das commodities agrícolas trazem benefícios ao Brasil. No principal polo produtor de soja do país, em Mato Grosso, a evolução das cotações já se reflete em planos ambiciosos para a próxima safra. Além disso, a colheita acima das expectativas da atual safra de milho de inverno, a chamada "safrinha", cultivada no intervalo do plantio da soja, potencializou o rendimento dos produtores. Empresas americanas fecharam contratos para importar milho do Brasil, algo inédito. A "safrinha" foi favorecida pelas chuvas na região, que costumam se estender de setembro a março, mas, neste ano, só cessaram em junho. "Foi uma condição excepcional para a colheita", diz Arlei Locatelli, da fazenda Itachin, em Sorriso. A família Locatelli, natural do Rio Grande do Sul, é produtora em Mato Grosso desde os anos 80. Eles estão entre os que se aproveitaram das condições favoráveis para investir pesadamente na aquisição de maquinário. Compraram uma plantadeira, uma colheitadeira, um trator e um caminhão. "A tecnologia é essencial para o aumento da produção", afirma Locatelli. A bonança é tamanha que a Agro Baggio, representante do gigante americano de maquinário agrícola John Deere em Sorriso, não tem mais plantadeiras nem tratores nos estoques: foram todos vendidos.
Desde o fim de 2011, o preço da soja subiu mais de 60% no país. Em relação à média histórica recente, a diferença é ainda maior. O preço do saco de 60 quilos era negociado a 83 reais na semana passada, mais que o dobro em relação aos 34 reais da média da última década. "O preço recorde significa uma oportunidade excepcional para os produtores aumentarem os investimentos na lavoura, elevando a produtividade", diz Fábio Trigueirinho, secretário-geral da Associação Brasileira das Indústrias de Oleos Vegetais (Abiove). Pela primeira vez, a safra de soja poderá se equiparar em volume à americana. O único efeito negativo, para o Brasil, com a alta dos GRÃOS será um possível aumento no preço dos alimentos.
A valorização do dólar em relação ao real também beneficia os exportadores (a matéria-prima é negociada por meio da moeda americana). Os ganhos só não serão maiores por causa dos gargalos logísticos. Faltam estradas e portos para escoar a produção. Chama atenção o desperdício durante o transporte. Na BR 163, que liga as áreas mais importantes de Mato Grosso, os acostamentos são forrados de milho. Os GRÃOS caem das carretas e deixam uma imensidão amarela nos cantos da estrada, que persiste durante os quase 400 quilômetros que separam Sorriso da capital, Cuiabá. "Se as condições permitirem, podemos ampliar a produção para 100 milhões de toneladas", diz Alysson Paolinelli, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho, em referência à média de 50 milhões a 60 milhões de toneladas dos últimos anos.
Ao menos a meteorologia deverá seguir favorável. Segundo os especialistas, já existem indícios de que a passagem de 2012 para 2013 será marcada pelo El Niño, o fenômeno climático de aquecimento das águas do Pacífico. Se confirmado, isso vai se traduzir na antecipação das chuvas na Região Sul, melhorando as condições para o plantio no Brasil. Diferentemente do cenário da safra passada, os produtores brasileiros de milho e soja ingressariam em 2013 sob os auspícios da melhor e mais rentável colheita da história.
Fonte: Veja.